sábado, 21 de novembro de 2009

bilhete de geladeira

para você. é, você mesmo!
pare de fazer o que está fazendo
por um segundo,
ouça no silêncio
o descompasso do meu coração
minha lira cantando longe
meu cancioneiro daqui.
ouça-me.

para você sempre
muito mais que um.
o mundo.

amo você, como se nunca...
guardo você como se sempre...
durmo
e hoje, ateu convicto
ainda rezo pedindo dias melhores
para você.

ouça. nada acaba
tudo se transforma.

meu amor...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

crucificado

nem me importa agora o que disse Carlos,
vem como vem, esse expurgo absurdo
com as cascas de uma ferida exposta
na bosta de vida segura da cidade grande...
com asco e com nojo
outro mais que eu mesmo.
porra, quero viver.
lágrimas filosóficas
intelectuais teóricos
idiotas identificados,
eis a poesia de hoje
crônica, doentia,
branca, preta, azul
clara escura pele.

nem tem lógica eu sei.
que se fodam os racionais.

estou pendurado no poste apagado
pelado ao sol
apedrejado pelo ódio
pela ira
pelo desdem humano.
estou sangrando
e o sangue que escorre desce aos subterrâneos
beirando a calçada suja.

negro, doente
sózinho...
ator, escritor
sem normas ou regras.

eu odeio gente burra
odeio os livros
odeio os homens,
amando-os.

mas meu último suspiro
já foi dado há muito.

ai que merda.

atirem pedras, paus e tijolos
massacrem o seu semelhante
faminto.

executem a pena
porque os juízes de plantão
já o fizeram.

viva a morte.

sábado, 14 de novembro de 2009

nova bossa

compositor solitário. eis o vazio.
o nada. o oco. o íntimo sem som.
o silêncio grita em seus ouvidos
pedindo melodia... o carro,
a música, o suspiro, a noite,
o grilo na cidade grande preso a uma árvore.

no vazio se compõe a melhor canção,
limpa e límpida. com uma única nota.
e se ouve o primeiro verso quando pronta.
ao invés de '' meu amor eu te amo''
ouve-se apenas ''amo''.

ao invés de bateria, guitarra e percussão,
ouve-se uma nota só,
dedo no violão.

compositor solitário não se entristeça
pois este é o momento mais sublime da criação.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

teorias

tua grandeza está exposta, homem
desde o teu iluminismo francês,
desde o teu pessimismo alemão
e tua poesia parnasiana.
como folhas avulsas espalhadas ao vento.

sei que todos são e foram importantes
tanto quanto entender-te a ti mesmo,
mas o tempo é cruel com teus escritos
porque o homem e o mundo são cruéis.

mas tua sabedoria também espalhou outras folhas ao vento
e foram tantas que
resolveste procurar a simplicidade
e escrever poucas linhas
ou linhas mais suaves.

tua grandeza continuou à vista
mesmo assim.
sem que tu soubesses como omiti-la
ela se refez
e os louros de tua vitória
estão engavetados junto aos teus escritos simples.

e agora? como seremos se tu já o foste?

cantando estaremos sempre
ainda que os cancioneiros morram
e todas a simplicidades expressas
virem objetos de museus.

agora, continuaremos sendo.
tu a ti mesmo
nós aos outros.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

mais um relato na cidade em que nasci

o andarilho que passeia sob a lua
canta sorridente e impassível,
aprende mais que ensina
raciocínio miserável
descortina-se a canção.

a luz que lambe sua face
varre o universo,
não é dor o que sente
mas o carinho da seda sobre a pele
na noite que corre calma.

na avenida suja, cora de felicidade
sem saber o valor do sorriso que estampa,
despe-se não para o amor mas para a guerra.
a cidade o devora, as pessoas o devoram.
a carne sucumbe ao som dos automóveis na garoa.

chove calma a chuva descortinando a lua.

tudo parece igual ao que era antes
e a lua continuará até o mar, a chuva também,
enquanto o andarilho estiver altivo
seguirá procurando o equilíbrio necessário para a vida
pleno pelos quintais do mundo
e tudo será como sempre foi.

o que dirá ao mundo o andarilho
se perguntarem
sobre sua nudez, sua insanidade,
a lua e a garoa fina?

nada. nada precisa ser dito
tudo está.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

desvirtuado


estou dizendo  sim ao homem,
posso voltar a acreditar que tudo pode ser poesia
que egoisticamente meu umbigo abriu-se ao planeta,
pelo menos ao meu redor.
há em mim uma euforia por conta do simples ato de acreditar,
como se os fantasmas que me acompanharam no palco por anos
resolvessem conspirar positivamente com meu cérebro
para produzir muita cerotonina.

estou dizendo  sim
quando ouço a grande MARIA com PESSOA em sua boca
ou CAETANO em sua voz,

quando vejo a beleza da crença no coração do homem do norte
mesmo que a chuva não venha logo
e que  a palma verde seja o único alimento possível
para todos os ene filhos e bichos famintos,

quando vejo as baleias sonham com uma terra farta de preás
e o bucho cheio de vermes dê lugar à barriga alimentada
e a poeira que afasta DEUS  de suas vidas
traga os DEUSES sempre discriminados,
com tanta água que a terra arrote
as sementes e o verde de seu útero,

ao ver os meninos mais conscientes, se um dia o forem,  que os intelectuais
sem ter que vender os drops nas portas das igrejas
ao filhos de cristo, cada dia mais ricos.

sim ao homem quando o dia tornar a nascer
e ridiculamente possamos cantar
canções de bem-viver.

sim! hoje eu me rendo.


**ILUSTRAÇÃO : Niilismo, Andy Warhol.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

homem ao sol

assim que vier a manhã
me prenderei a ti,
tão fortemente que meus braços farão um laço
em tua cintura.

assim que romperes a nuvem-chumbo
beberei tua cor e tua luz
e salvarei na minha memória o beijo que te darei
com os lábios de um poeta melhor do que eu,
emprestados.

beijo destes que a gente nunca esquece
tecido com o carinho da alma
que madura habita o maduro jovem senhor
de cãs prateadas,
eu.

e antes que tu possas ir-te
estarei acenando no horizonte
com a memória do beijo guardado
no peito,
e os olhos umedecidos de tanta saudade
até que um novo dia se anuncie
prometendo o teu retorno triunfal
e todo o rito que descrevi
se reinicie.

domingo, 27 de setembro de 2009



O HOMEM VITRUVIANO, Leonardo da Vinci. Trata-se de um desenho famoso que acompanhava as anotações de Leonardo ao redor do ano de 1490. É um desenho baseado numa famosa passagem do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio em que em seu terceiro livro de um tratado de arquitetura, descreve as proporções do corpo humano. O desenho é considerado um símbolo da simetria do corpo humano para o universo. Foi apenas com Leonardo que o encaixe saiu corretamente perfeito dentro dos padrões matemáticos esperados.
As proporções matemáticas do corpo humano no século XV, por Leonardo são uma das grandes realizações que conduzem ao Renascimento Italiano.
O desenho atualmente, faz parte da coleção da Gallerie dell''Accademia, em Veneza, Itália.

eis

de fato o que é certo é que estou o tempo todo dentro de tudo,
como um animal que compõe a cadeia alimentar
engolindo e sendo engolido. o leão que ruge
a iena que ri. o gavião que caça.
o peixe que nada. o homem que existe.

o suposto ser decente que existe em mim
não me faz superior ao assassino. nem inferior.
talvez também eu o fosse, se...
momentos que variam em discordância concordante.

se um galo tece a manhã
estou nela,
se o sol clareia e ilumina
sou iluminado,
se as nuvens espessas escurecem o dia
sou a treva.

e assim se faz a magia sempre comigo ou sem mim,
invariavelmente.

egoísmo pensar que sou o único que sofre
o verdadeiro que diz
o especial que profere palavras escritas
o ator único,
o poeta inventor
ou o homem que tudo nega por ser o grande sabedor.
...

tudo está ou é ou transcende
ou passa ou fica ou rola
ou nada.
independe de mim.

mas faço parte de tudo.
de tudo o que é presente ou ausente.

assim, criei meus códigos
como todos os outros criaram ou criarão
porventura um dia.

apenas uma coisa faz com que eu acredite que sou único,
a despeito de não sê-lo também:
meu coito é meu.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

cusparada

(ABAPORU, Tarsila do Amaral 1928)



tudo está para um.
para sempre onde o que se faça.
nunca é nada. nada é para sempre.

tijolos são barro
barro são tijolos.

casas são lares e lares não são casas.
casas são coisas e coisas são tudo.
tudo o que ainda vai passar é coisa.

do lado de dentro dos olhos
capto cismado a mínima linha
que ao acaso se mistura com a palavra.

a mente espreita o que quer
lhe interessa apenas o prazer,
as dores ficam nas gavetas.

tudo está para mim
porque nós somos eu
distantes de tu
para além de vós.

o espelho está quebrado.

grito
mastigo os cacos
expresso os ocos.

sou o homem que come ismos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

palavras esparsas ( mais uma para Caetano Veloso)


silêncio! agora é deserto.
estou aqui plantado tentando encontrar a perfeita melodia
mas o dia em que me vi nu eu era tão jovem
e queria ser tão bonito quanto você,
zoando no capô do carro  e  namorando sua voz no k7.

silêncio. fico no silêncio. não consigo a melodia.

cacete, como essa cara é lindo!

isso tudo é vanguarda? charada espessa. cobra caninana
ai. araçá azul, com fé em Deus eu não vou morrer tão cedo.

fico místico. cético de tudo. ateu de Deus.
fico em você.
eu te amo.

O GRITO, Edvard Munch - um dos precursores do expressionismo alemão, Museu Munch(Noruega)

o umbigo e o oito

o que dizer do mundo?
o que pensar do homem?
nada. o homem está fadado a ser o que é.
as fórmulas escolhidas para o entendimento
são fórmulas.
fadados como estamos, nós homens
aos nossos holocaustos pessoais
o mundo se torna pequeno e não importa.
sempre será mundo e sempre será história.

o nosso umbigo reina imponente dentro do peito
a despeito do mundo.
as vezes acho que o umbigo deveria estar na testa.
a barriga é pretexto de moradia dele
a carne é material que o identifica,
um dia  serviu de prato para o alimento, caminho,
enquanto habitávamos a barriga de nosso hospedeiro, era tudo.
depois do nascimento, o rompimento e pela primeira vez o mundo.

mas o umbigo continua sendo o grande elemento.

o que pensar do umbigo?
nada. é o umbigo.
assim como o coração,
é linguagem figurada.

já a mente, a cabeça habitada
transporta-nos para dentro de nós mesmos
e para fora e para o mundo.
ela é o verdadeiro umbigo dentro da cabeça
que só se rompe quando o fim chega.
e o fim é certo. sem efemérides ou poemas.
é apenas o fim. para muitos é continuação.

mas para ser mais nobre,
é apenas o fim de um ou de outro.
o oito continuará ileso e infinito
como nascimentos e mortes,
alfa e ômega. e isso é mais importante
quando se pensa no mundo.

o resto é poesia.
viva o oito.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o beijo ( para Luís Carlos)

esperei que o dia amanhecesse. a noite havia sido muito difícil,
sem estrelas, nublada, sem sonhos bons.
no pesadelo que tive, o único do qual me lembro ao acordar,
eu morria numa pedra alta, com a cidade ao longe,
como um lagarto estirado sobre a superfície dura.

ao amanhecer
nenhuma recordação que me fizesse sentir melhor, apenas o vazio triste
das imagens capturadas no sono. no sonho.

abrindo a janela o dia estava cinza. mais cinza que o normal.
de uma escuridão-chumbo, sem um filete qualquer de claridade
que ousasse romper as nuvens.

mas eu tinha você. por mais que tudo fosse horrível
havia você ali, sentado ao meu lado.

misteriosamente, depois do beijo que você me deu ao acordar
as nuvens se dissiparam e o deus-sol abriu-se em flor
tão magistralmente que nem os homens poderiam detê-lo
com toda a sua avançada tecnologia.

os dias são muito melhores com você, meu amor.

sábado, 19 de setembro de 2009

interrogação

hoje homem feito preocupo-me com a morte.
choro sózinho
pois não sei o que há, se há, do outro lado
no inexistente.

sinto-me repleto de tristeza e saudade do que não estiver comigo,
se eu estiver em algum lugar
ou se eu simplesmente estiver.

o que os livros sagrados me dizem não me consolam
e a vontade desesperada das beatas em fazerem as pazes com Deus
são apenas ainda mais ridículas aos meus olhos que duvidam.

hoje homem feito
definitivamente não quero o outro lado
embora sua possível existência não me preocupe.
sinto-me farto de tanta alegria por tal liberdade.

limitação

do alto a lua inteira me observa.
me observa porque observa a todos,
altaneira, branca espuma em meus olhos.

este poema, apenas um desenho pálido
do que não posso definir.
a lua, meus olhos e a espuma-névoa instalada em minha alma.

quantas vezes já procurei o cavaleiro sobre o cavalo branco?
éramos meninos e brincávamos de adivinhar desenhos no branco.
infância breve, espírito inalcançável, imcompreensível.

no ar pesado, em mim
transborda o copo de leite
e a lua branca não cabe nos meus versos
porque é o que é,
e eu incapaz apenas abraço-a.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

paralelas

antes da cidade se abrir para nós
éramos muitos. continuamos muitos,
mas sós.

no meio da estrada foram abrindo-se bifurcações.
e corremos feito crianças de apartamento
amassando a grama desesperados.

a cidade era sedutora quando éramos meninos-homens.

meninos vivos são seduzidos com facilidade.

é a história natural. evoluir e crescer.
avançar estágios
achar caminhos. o sexo tem boa parte da culpa.
a inocência morre. a euforia cresce.

o cigarro fácil. o beijo fácil.
o coito improvisado.

no tempo em que os homens tinham outras máscaras
éramos presas fáceis da cidade fastástica, perigosa.
mas os homens continuam com todas as máscaras.

ninguém é comum.
ninguém é ruim ou bom. somos.
ser é avançar estradas
criar calos,
tornar-se homem.
abandonar as tetas.

os animais quando desmamam partem em busca de sua vida própria.
queríamos nossa vida própria.
queríamos as canções, o vinho, o cigarro,
a bagana barata.
o barato.

e agora temos a cidade.
nossa cidade de mil faces
sob a face hipócrita.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

meninos da vida

O que éramos nunca foi importante.

Éramos nós. Os meninos esquecidos
Num bairro pobre de um país sem recursos
No meio de uma metrópole rica,
No centro pobre da América Latina.
Sem hospitais
Nem escolas.
Muitas vezes sem pão.
E isso não era ruim. Vivíamos sem a consciência do que éramos.
Vivíamos.

Mas o circo havia. O circo era nosso.
Éramos mestres do nosso picadeiro.

As janelas abertas davam-nos outras visões.
O quintal de terra
O velho abacateiro
O pé de pêra.
Os cães gordinhos de comer angu
Que nunca souberam o que era veterinário.

Éramos vida.
Muitas vidas em perninhas secas sujas de terra vermelha,
Com catarro no nariz
Correndo atrás da bola murcha.

Éramos meninos-homens
Meninos-feios
Meninos-magros
Meninos doentes
Meninos-criativos.

Crescemos querendo abrir mais portas que janelas.

E quando fomos amadurecendo
As janelas tornaram-se mais importantes
Como se no horizonte
Buscássemos a perspectiva para o desejo de um bom desenho.

Hoje continuamos esquecidos. De um outro modo.
Hoje somos mais responsáveis por nosso próprio esquecimento.

Hoje somos homens querendo ser meninos
Homens feitos
Homens feios
Homens doentes
Homens vazios,
Com um talão de cheques no bolso
E um carro velho na garagem.

Hoje comemos macarrão com frango
E assistimos muita televisão aos domingos.
E cada domingo é ainda mais vazio.

Hoje somos pouco mais compostos.
E continuamos sempre chegando
Passando
Atravessando
As pontes de nossas ‘’ babilônias ‘’.
Outras agora. Novas. Nossas.

Hoje, viver é um outro reflexo. Outro deus.
Hoje conhecemos Narciso.

fotografia muda

nasci em família pobre. meu pai era operário,
minha mãe fazia serviços de costura para confecções.
o bairro pobre e a vida humilde fizeram-me entender muito da vida.

brincávamos com a criatividade inventiva dos artistas.
todos éramos escultores natos.
nossos brinquedos eram feitos de pau: espingardas, carrinhos tortos, estilingues.

cinco ou seis, talvez dez meninos brincando com os brinquedos feitos de pau.
e quase nunca tínhamos os brinquedos anunciados na televisão.
mas tínhamos muito mais que os brinquedos de pau.
tínhamos a infância.

trazer a poesia desse tempo para o papel? impossível.
é como tentar ser pintor sem ter a sacação necessária dos matizes.

corríamos sempre morro-abaixo morro-acima, diariamente,
com um velho carrinho feito com rodas de rolimãs
que comprávamos numa mecânica do bairro.
e descobríamo-nos assim.

o tempo foi nos afastando, como sempre acontece.
meninos que viram mocinhos e mocinhos que viram homens.
pequenos homens responsáveis
com seus pelos e pernas crescendo.
e a voz engrossando.

que saudade do tempo em que eu era um menino,
dos brinquedos de pau
das ladeiras dos carrinhos de rolimã.
e da pobreza-rica da minha infância.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

hoje eu sei

hoje eu sei que quando abrir as minhas janelas
tudo continuará  como era antes.

mas continuarei procurando do que falar.
dos excluídos
dos lembrados
dos que nada tem a dizer...
de mim.

muito a oferecer?
será que seria?

hoje eu sei. aqui eu olho dentro dos seus olhos.
leio-o.
leia-me então.

portas abertas

abrindo minhas portas
fecho-me a mim mesmo
e exponho-me ao mundo.

meus livros, meus discos
e as canções que poluem o meu imaginário
são o melhor de mim.

outrora, se eu cavalgava em corcéis
era por ter em mente ser poeta.
hoje, modernamente
cavalgo numa nuvem baixa,
poluída e seca.

quando olho para as pessoas
não sinto nada.
não creio que ainda possa crer.
mas não se trata de romantismo
melancolia ou tristeza.
é mais a consubstanciação do que percebo.

não venderei livros.
emprestarei poemas,
muitos dos quais carregados e pesados
de tanta informação.
os mesmos que serão esquecidos e lembrados,
mas povoando minhas canções
cantarei sempre.

muito me falta, eu sei.

muito me falta da simplicidade do ROSA.
da decomposição do PESSOA.
e da habilidade do MACHADO.

mas estes continuarão sendo meus.
continuarão parceiros de vinho e café.
bebedores de conhaque à beira do rio poluído.
comigo sempre.

com licença

com licença. estou entrando.
meu nome não é Pablo Neruda.
não vou pedir licença. eis-me aqui.
o que sou não importa,
se poeta, muito bem,
se homem, nem tanto,
se eu mesmo, muito melhor.
abro minhas palavras
como se abrisse a massa de um pão, sobre a mesa,
meticulosamente, mas sem técnica aparente.

o que eu ofereço? nem sei.
um pouco de mim.
mim, porquê eu, não importa.

na minha sala
estão expostos meus poemas
sobre o chão,
deito-me todos os dias sobre eles
esperando que me entendam.

sirva-se de um bom café
puxe uma cadeira e vamos conversar.
ou talvez, deite-se sobre eles também,
com todos os buracos de seu rosto:
boca para engolir,
ouvidos para ouvir
olhos para ver
e o buraco da cabeça onde mora a alma,
para sentir.

eis a minha poesia. meu diálogo com o mundo.

a poesia tem que ser diálogo.
a poesia tem que ser o que é.

hoje eu digo: sou eu. sou mim.
eis-me aqui.

domingo, 13 de setembro de 2009

da janela

vendo quando você se manifesta na rua em frente a minha janela
 tento entender tudo que é seu.
o histerismo, a  raiva, as lágrimas, o riso amargo e os seus demônios manifestados,
na madrugada.
deus, como somos parecidos!

eu sei.

eu sei que a culpa é dela.
 a cidade é cruel conosco.
a vida é  impiedosa.
os homens, cruéis e impiedosos.

deste balcão onde atuo com meu improviso
gravito ao seu redor, enxergo o seu choro. choro com você.
bebo com você. sinto fome.
somos protagonistas do mesmo espetáculo patético.
e todo o resto em nossa órbita.

sempre de madrugada
os seus barulhos  invadem o meu quarto.
sento-me na cama assustado, por um instante.
depois me acalmo quando lembro que são seus.
abro a janela e passo a fazer-lhe réplica,
dividir o palco com você.
e quando você se cansa eu também vou dormir.
demoro a pegar no sono.
e na manhã seguinte a primeira coisa que quero ver
é  o que está dentro do seu olhar,
 a doçura, e o lirismo insane pousados em sua retina suja.
suja de poluição, de nós, de cidade, de gente e de solidão.
e penso '' o que há de tão incomum entre nós?''
sinto que sou tanto quanto você.
ou tão quanto,
gratuitamente.

o sol me diz que  estou enlouquecendo.
a diferença é que sinto mais pois estou consciente.
não quero mais o '' ter que ''.

você acorda, se levanta da calçada.
eu disfarço e vou embora.
o dia me espera. até mais tarde.
logo estaremos juntos.

você volta?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

deus



O que fazem de Deus
É porque ele o permite sempre.
Se ele desce ou sobe escadas
Ou se vai de elevador,
Se dorme, acorda, pune ou presenteia
Será isso mesmo?
Quando não o sabemos
Tentamos criá-lo.
E se ele existe mesmo
Como um ditador,
Então quero ser anarquista sempre.
Mas se ele não existe
Deixem-no onde está.
E se por acaso a sua existência for inevitável
Acredite na história da '' imagem e semelhança''
E pense em Deus como tu, ele,
E todos nós.
( ilustração : Ascensão de Cristo, de Salvador Dali )

bêbado

Rindo.
Sempre rindo de tudo
Inclusive de mim.
Não caibo nas páginas que compuseram sobre o homem
Que quiseram que eu fosse.
De tanto que invento
Tento estender minha estrada
E cruzar com a canção na esquina,
Bêbada.
Mas não a encontro porque não sei cantar.
Então mantenho o riso
Olhando para dentro.
ahuahauuuahua.riririririririririr.
Rindo de mim mesmo.

no espelho


De certo
Estás perdido.
Teus culhões doem.
Haveis de continuar sentado
Sobre tuas pernas flácidas?
Haveis de esconder sempre o teu MISHIMA na cueca?
confessa tua máscara.

Olha para a tua casa.
Dança, canta, bebe o teu licor
Acende tua geba.
Acorda.
O teu trem já vai partir.

Chega de questionar-te
Exista.

De certo perdeste a inteligência.

Já que estás perdido, mesmo,
Abra tua janela
Sem agradecer ao sol por viveres.
É melhor que tu saibas que ele sempre estará ali,
onde sempre esteve. apenas.
E tu deixarás de existir
E ainda terás que agüentar a tua missa de corpo presente
E as carpideiras que teu deus-pessoa educou
Para beberem tua boa morte.

De certo mesmo, estás vivo.

( pintura : NARCISO, de Michelangelo Merisi da Caravaggio, pintor do barroco italiano (século XVI e início do XVII)

a hora morta

Eis a hora morta. Todos estão mortos.
Deus deixou de existir há muito,
Por isso os profetas do luxo
Agora cantam um Adão renovado
Satisfeito financeiramente.
O resto é dízimo.
Os artífices do novo paraíso pregam uma conta bancária obesa.

Nas ruas as procissões aumentam
E cada nicho grita sua presença.
Mas ainda estão em seus guetos e não sabem sair deles:
Negros racistas, gays racistas, religiosos homofóbicos e racistas,
Atores vivendo presos nos laboratórios masturbatórios.

Há os quintais ainda vazios
Sem a cerveja, o churrasco, os amigos...
Sem o esfrega gostoso que molha as cuecas e as calcinhas.

Mas não há fatalidades numa sociedade tão moderna.
Há os homens
Sempre chegando e atravessando suas pontes existenciais.

Na visão do romântico é o fim.
Mas todos querem o sucesso
E os homens-coisa clamam em si, por si mesmo.
O eu coletivo vazou suas próprias questões
E atravessou gerações individualizando-se ainda mais.
Danem-se os plantonistas da adequação também,
Pelados em seus banheiros com seus paus nas mãos
Arrancando à força o prazer solitário.
Por quê não compartilhá-lo?
Danem-se os preconceituosos vestidos.
Eis a hora nua. Todos deveriam estar nus.

Mas tudo é ainda o mesmo. Tudo é tão igual
Quanto já o foi.
Ainda queremos.
É tudo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

eu macunaíma

me deixem,
eu sou um viajante,
andarilho, vagabundo.
poeta pobre
bêbado
dormindo ao relento
como se na mais pura seda.


me deixem em paz.
ai que pobreza de vida,
ai que preguiça!

dialética

Ontem vi apenas lágrimas passionais
Nos olhos de uma jovem poeta.
Os versos apenas pingavam, e eram
Afirmações no coração de uma adolescente
Que julgava ser poesia
Chorar pelo amor perdido
Vangloriar a alegria falsa.
E ter o medo mais desesperado da morte.

Pensei nos poetas que o são por si mesmos
E em tudo que escrevo e exponho no papel,
Eu que nem sei se o sou.

Um sentimento vazio e rancoroso habitou-me.
Ora,
A alegria é importante
A tristeza é importante
A vida é imprescindível
E a morte é certeza.
O que acontece entre-atos
É o melhor.

Por quê encher de lágrimas
Versos que deveriam apenas ser versos?
E de alegria, palavras que seriam alegres sempre.
Entre-atos, o sensato é viver.

A poesia deveria ser apenas poesia,
Carne da carne como ela é.
E se não fosse, para quê sê-la,
Criticá-la, entendê-la ou admiti-la?
Mesmo que eu crie versos
E ainda chore ou cante de felicidade,
Tenha medo da morte
ou sofra o amor perdido,
O fato do sol nascer mais cedo
É apenas por uma questão de situação sazonal.
Se a chuva cair, efeito meteorológico.
A morte acontecer, necessidade
- no mundo não caberiam tantos.

Entre-atos tudo sempre será.
E a existência é apenas uma serpente,
O oito, o infinito começar-terminar-recomeçar.

Entre-atos, poesia é achar-se no palco,
Ser parte dele.

Mas quantas vezes eu neguei tudo o que questionei agora?

auto

versos amenos e palavras tranquilas
todos nós queremos a paz,
mas eu tenho minhas dúvidas
se quero águas mansas.
quero o real
pois a fantasia já a tenho.
quero versos que sejam versos
sem regras,
quero a palavra instigante
a canção sem música
o rap sem armas ou sangue, não quero a cor.
a crônica do dia para além do dia
o metadia...
quero versos que não sejam só pra se colar nos cadernos escolares
nem nos títulos que nada digam.

por isso minha poesia
quer poesia.
mesmo que meio empoeirada
meio manca,
coxa.
quero que a técnica me deixe em paz
mas a quero por perto.

e quero dizer que quero meus próprios versos...
eticétera.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

proema


não sou nem capaz de tecer um verso
uma linha do jeito que tu tecias.
mas os monstros que habitavam a tua casa
para mim são constantes todo o tempo.
contudo, minha carne opaca não é capaz
de armazená-los sob a pele.
então teço como um cantador anônimo
que não tem ciência nem escrúpulo
mas que se rege pelas regras
que tanto tenta quebrar, mas que não quer se parecer contigo.
não sou nem capaz de sentir por dentro
porque sou o próprio sentimento.
sentimento não sente. é.
não sou capaz de amar
pois sou o próprio amor
ainda que proibido e expulso da sociedade.
não sou a luz do sol
nem a sombra da lua.
menos ainda o beijo.
sou eu. cara suja no palco.
mas o que é ser eu?
é ser o que sou?
o que sinto?
o que faço,
sonho ou imagino?

não sou capaz de nada mesmo.
e tal fato não me entristece.
na minha exegese diária
crio em função de recobrar uma poesia
e não deixar que a agonia mate a vida.
mesmo que seja no quadrado em que vivo.

e o que tento é penetrar a parede que me separa de ti.
FERNANDO criador sem rosto fixo
o outro maior na casa da sinfonia da palavra.
artista-arteiro
PESSOA da minha convivência diária, celulose marcada
dormindo sobre a mesa
ainda que as vezes BERNARDO, CAEIRO,
ÁLVARO, RICARDO...

ainda que as vezes FERNANDO.

não sou nem capaz de te oferecer o poema-proema.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

entre atos


entre atos, composto
pleno.
o diabo numa mão
e o anjo na outra.

entre outros
descomposto na alma.
o outro que me habita
em algum lugar de mim mesmo
nunca repousa.

o relógio soa a triste hora
e o corvo me observa sobre o umbral principal da sala.
transpiro , escoando gota a gota
meu medo entre as linhas vazias da folha de anotações...

o corvo me quer
o anjo me deseja
o diabo me habita.

entre atos.
quantos espíritos podem habitar a alma de um ator?

sábado, 29 de agosto de 2009

me beta ( para Maria Bethânia)

fiz para ninguém
cantando em lugar algum
nenhum de nós a ler,
só o som no fundo soando
e uma guitarra desarmônica.

fiz por fazer
queria que você me cantasse
como quem sabe ler,
só o som de você voando
e um par de ouvidos atentos.

fiz para você
admito que queria que você me ouvisse
como quem sabe cantar, na calçada
só o silêncio de minha letra andando
e um sorriso no canto da boca.

fiz sem querer
fiz pra ninguém
fiz por fazer
fiz pra você.

me canta
me beta
Betânia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

antes da feitura

antes da feitura
a palavra tem que ter um halo
identificar-se no espírito,
mesmo que seja o que é.

a poesia é uma proeza da palavra que se desmonta
e se refaz de tantas formas...
eu por exemplo, com a cabeça cheia de canções
e a alma repleta de personagens
crio halos e elos múltiplos
idiossincraticamente em piruetas fantásticas,
antes da feitura.

não há indícios de que a poesia seja apenas uma ou várias,
e tal liberdade, ao mesmo tempo
é aprisionadora.
livre? quem o seria?
nem eu mesmo
que na palavra tento me libertar das formas.

na poesia há movimentos doidos
como nas canções ou na composição dos personagens,
uma suruba ecumênica instala-se
antes de sua feitura,
mesmo quando a palavra é o que é.

e antes da feitura da poesia
a ausência do canto do grilo
o violão mudo sobre o colo
um segundo antes do suspiro,
melhor do que tudo.
antes da feitura: o silêncio.

hiato

hiato. ato id.

fenda necessária.

ignomínia da alma sobressalente.

ato vazio. eu.

ato. de mim.

ia...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

casa

sempre quis limpar a casa suja,
remover a poeira dos livros, aqueles que estão sempre mais sujos,
encontrar o feitiço para libertar os personagens e seus fantasmas
e depois colocá-los numa grande fogueira
e queimar-lhes, vaidades que nos iludem.

incendiar a casa toda daria muito trabalho.
seria mais difícil que esconder sob os escombros
as tragédias de nossas vidas pequeno-burguesas,
porcelanas baratas.

sempre quis libertar dos livros
primeiro o amor
tardio cardiopático passional latino americano,
em seguida os monstros fascinantes e maravilhosos
sem perceber que muitos deles já estão libertos-não-libertos
caminhando entre os pedestres.

mas minha vaidade não me permite
pois teria que fisicamente me livrar de suas prisões,
após a alforria - elas estariam vazias -,
dos livros, das vaidades e dos fantasmas habitantes.
o que seria de mim? de nós?

limpem a casa suja e queimem-nos os que vierem depois de mim,
se eles ainda existirem.

ai que preguiça.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

segundo ato

palavras que dançam vazias plenas de uma liberdade imaginária
procurando poesia em si,
por si e para si.

palavras que na boca tem o som do que foi dito,
sujas palavras.

na boca a palavra soa, quando bem dita
como a memória da alma, para além do escrito.

está dito. tudo está dito?
eis o infinito.

primeiro ato

tempo que lhe perco
tempo perdido em que me deixo
basta.
vanguardas que naveguem
escolas instituídas
pedra por pedra
tijolo por tijolo.

ouço o que digo
renego, desdigo
saio do meu umbigo angustiado,
ângulo desreto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

expurgo

‘’ Pregadores do evangelho da prosperidade proliferam no mundo.
No Texas diante de milhares de fiéis assolados por dívidas, pregadores do evangelho da prosperidade deleitam a multidão com histórias de vidas luxuosas. (...)’’
No Brasil, Edir Macedo oferece um diploma assinado por Jesus Cristo.
E numa outra igreja, o pastor analfabeto promete curar de ‘’ ades ‘’ um homem destruído pela AIDS, e por doenças oportunistas como a lipodistrofia. Como disse Herbert Viana, ‘’ quem não tem ABC não pode entender o que é HIV’’.
Hondurenhos responsáveis pelo golpe militar, tiram Zelaya do poder.
Eleitores rurais do Japão estão perdendo a fé.
A proposta de reformar o SISTEMA DE SAÚDE norte-americano desagrada os republicanos ricos.
No senado brasileiro, políticos articulam diante dos nossos narizes, e costuram seus erros com acordos estúpidos e indecentes enquanto a educação brasileira continua uma merda. E o nosso presidente da res pública, já foi pobre e sofrido. Lula me assusta, porque o homem público me assusta. não há sequer nem mesmo vergonha por parte de um homem que sempre pregou igualdade. Sábios pessimistas...
Hassana Sherjan diz no New York Times que o sentimento dos afegãos com melhor nível educacional, no contexto do pleito presidencial, é de extrema apatia.
No Brasil, os filósofos da UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO decidem abster-se de qualquer movimento em relação à divulgação ou apoio de votos a qualquer político em época de eleição.
Gangues armadas atacam homossexuais no centro-velho de São Paulo, dizendo que a bíblia prega que eles todos deveriam morrer. E um dos membros de uma das gangues é marido de um travesti.
Pobres serão sempre pobres, como disse Caetano serão sempre ‘’ podres ‘’. Ricos serão sempre ricos. E homens serão sempre homens.
E quando se trata de democracia, tristeza dizer isso, é melhor desistir de tudo.

É que no fundo não podemos. Há muitos josés e jesuses nascendo todos os dias e precisando de atenção. Enquanto estivermos vivos, temos toda a responsabilidade pela incompetência dos outros e nossa.

o fazer

não consigo dissociar o ofício da escrita
do sentimento presente no que quero dizer.
não sei se digo, se me calo ou se artificiosamente desenho.
a arte de compor tem para os disciplinados uma regra.
para mim, tem o querer dizer.

arruinado em pedaços
Deus nem sabe de mim
ou de minhas palavras.
feliz por inteiro, coisa que nunca ...,
Deus continuará sem saber.

prefiro que o homem saiba
e tente comigo as '' aéreas piruetas '' de Clarice,
guardada em mistérios no coração.

mesmo quando me sento diante da máquina
que me permite a transformação da poesia em objeto físico,
prefiro que o homem saiba
de minhas secretas acrobacias
tentando não arrancar as palavras do limbo,
mas deixando que elas se façam com o respeito que lhes é cabido.

não sou artista, não sou homem
nem tampouco apenas observador.
executo, danço, deslizo e componho
mesmo quando explodo
faço-o porque a palavra em mim quer vazar
e errar no portal entre os grandes
e com a cara dos pequenos.

sou um luxo, no lixo.
com arrogância arrisco.
com elegância insisto.

e sei que durante muito
o fazer irá confundir-se com o '' sobre como fazer ''.

mas se o leitor procura fórmulas
não há.
há sentimentos, sensações e construção de formas
sem formas.

sou tão bicho-do-mato quanto tantos outros
porque não posso mais me sentar à praça
nem admirar o vazio que há entre as coisas
nem o silêncio
nem a canção.
tais coisas não existem mais.

resta uma ilusão.

domingo, 23 de agosto de 2009

com amor

eu odeio gente.
odeio o vento e o calor,
o asfalto
o limpo e o escondido.

odeio dizer que odeio.

odeio ter que ser
ter que ter
ter que fazer.

odeio os seres racionais
e as crianças hiperativas: judô, Karatê, inglês, internet, orkut
e a punheta adolescente.

odeio-o.
odeio-me.
a ti odeio-te.
e te amo por me odiar.

narciso no espelho...aflito.

de mim o que digo, será mentira?
eu é apenas um pretexto
de alma completa que não se completa, diz-se vazia.
pereço, eu sei.
em cada esquina haverá sempre um anjo de Rilke(*)
marcando as horas definitivas e todas as despedidas.

pereço diante da morte que se aproxima
quando me lembrarei de todos os livros que devorei
e a vida de cada um deles latejante.
e os anjos me condenarão ao inferno por tal promiscuidade.
mas será que o inferno pode doer mais que a morte da alma? o deixar de existir?

de mim, o que digo agora será saudade
do que eu ainda não vi.

eu é apenas parte de um contexto
pois nem chegarei a ser um eu velho.
e na hora final me lembrarei de todos os meninos que devorei
o sangue de cada um deles derramado sobre o meu dorso...

de mim o que digo?
morrerei jovem sob a garoa fina na avenida paulista.
e todas as mentiras da minha vida serão abolidas.

de mim? o quê direi se estiver apodrecido?
nada.

(*) referência ao poeta Rainer Maria Rilke, nascido no
império austro-húngaro no século XIX que, com sua poesia
influenciou inclusive a filosofia de Heidegger, '' (...) refletindo a angústia
do mundo de então (...)".

sábado, 22 de agosto de 2009

imperativo

confessa ao acaso os teus pecados tolos
teus ritos profanos e teus coitos
tua vida pregressa e teus prazeres.
há ainda algo a festejar.

confessa-te e contempla a tua imagem no espelho
e verás que nunca celebraste tua vida, na dos outros.
professa teu altruísmo falho
teus versos messiânicos e tua alienação diante do real,
teu mundo moderno e teu feijão com arroz.

alinha teus sentimentos aos olhos do mundo
e teu egoísmo filosófico.
tuas regras estão mortas - pelo menos na alma -,
e choram seu fim sob o sol
que ilumina generoso a tua casa.

anda,
põe-te a dizer o quanto erraste e toda a tua culpa burguesa
mas admita que tua carne envelhece tardiamente
enquanto teu espírito já se foi.
lembra-te que o melhor que fizeste foram só teus coitos verdadeiros,
e quando celebrares o '' enterro de tua última quimera ''
tuas lágrimas não serão pelos que ficaram,
mas para ganhar de teu deus a redenção epifânica do verbo,
escrito feito homem.

tua culpa que te enterre.

prece...

sabemos de tudo e não sabemos
somos científicos, racionais,
tantos e nenhum.

sabemos de tudo, mas ruíram muito mais coisas
que apenas duas torres,
e a história ruiu há muito.

ainda há tanto por dizer!
há bárbaries e cantares
há dores e festas...
pois é...ainda há festas.

há países sem haver nações
brasis marrons sem pães,
e há muitos picadeiros e imperadores instituídos
enquanto os estudiosos dizem '' tudo é normal''.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

tudo quer ser redito


diga-se novamente se não houver mais o que dizer,
diga se
antes que a serpente volte a engolir-se, a si mesma, pela cauda
exponha-se ao ridículo de si no se
e extrapole as curvas da estrada.

mas não assassine a frátria língua
e perdoe-se a si mesmo se não tem a chave,
mas dê à poesia o que lhe cabe.


diga-se capaz de reinventar
para resistir
e refaça a tarefa de casa.

só então queira mais e seja mais.

mas lembre-se que um dos mineiros mais ilustres tinha razão:
''(...) aceita o poema como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço(...)(*).

tudo está realmente dito?
então rediga-se.
(*) Carlos Drummond de Andrade em A PROCURA DA POESIA - A ROSA DO POVO - Ed.Record

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

MINHA CIDADE ACONTECE, TAMBÉM, DENTRO DE MIM.

OUTRO

pobre poste solitário nas madrugadas iluminadas
em que nada existe para '' os justos '' que dormem.
quero instalar-me no alto da sua cabeça
para enxergar a cidade, diferente
e ver mais distante,
alto, imponente
feito de concreto, cimento e pedra.
deixe que eu também mije em seus pés
como um cachorro cansado de correr atrás do cio das vadias,
ou deixe que eu morra abraçado a sua frieza imponente
pobre poste solitário que transita imóvel pelo tempo
e que se degrada muito menos
do que eu.

CIDADE ...aqui vivo e morro todos os dias

mata-me em teus quintais, cidade apodrecida de tão linda
que depois meu canto será desfeito no escuro
em teus açougues humanos
cheirando a pernas e braços lisos
ou peitos sólidos e corações cheios de imagens.
teus meninos, cada vez mais feios
todos criados no sétimo dia
roçam felizes seus paus em outros paus, as vezes postes
enquanto outros paus e algumas bocetas, as vezes, os esperam.

mata-me
água-me
desata a tranca entre minhas pernas,
longa cidade que me estupra
alta
obesa pedra, ora mórbida, ora linda construção.

ficarei três dias morto
sob as lágrimas das carpideiras
mas se tiver que ressurgir no quarto
que seja em cama macia.

mata-me antes de morrer completamente
e que seja depois do inverno, antes que eu me canse.
cantarei os teus subterrâneos sob a noite e a garoa fria
se me deixares cantar antes de minha morte.

eu sei que há muito, um anjo me espera nas esquinas de tuas vias.

tua circulação já não me vaza mais.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

é proibido proibir?

eu te proíbo de fumar em locais fechados,
boto a policia atrás de ti, cobro-te alto pelo delito e sem educar-te.
de beber com os amigos na praça.
e se tu desobedeceres, tua pena é a de ser roubado pelos meninos do crack
do centro-velho da tua cidade, esquecido.
- os próprios meninos já foram condenados a não ter uma vida melhor,
e estão pagando suas próprias penas.

te proíbo de amar o teu menino em público , se fores menino
ou a tua menina se fores menina.
e se eu te vir fazendo-o, prendo-te por atentado violento ao pudor.

te proíbo de ser preto e de ter a tua cultura própria.
te proíbo de não acreditar em Deus,
e te levo para o inferno.

a partir de agora não podes também fazer a tua arte
pois teus patrocínios nunca virão,
condeno-te ao que quero que vejas ou assistas.

de andar pela cidade à noite ou admirar sua arquitetura
posso condenar-te por observar ou por suspeito de tentativa de assalto.

eu te proíbo de muita coisa
e te digo
que a maior proibição que deixarei a ti
é o direito à educação e à vida, não o tens se fores pobre.

te proíbo de ter bons mestres
bons educadores e uma boa escola.

e se acaso não gostares
quero que tu te fodas
principalmente por já ter tirado de ti
o direito à discussão e ao esclarecimento.

ah, ia me esquecendo de dizer-te
que com tudo isso proíbo-te
de ser tu mesmo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

livre


não crio sistemas nem estilos
sou um círculo de conclusões
que na proeza da palavra dita
afirma-se a si mesmo...
palavras não são canções
mas fazem delas desenhos imaginários
seja no coração, na cabeça ou na alma.
me perdi no silêncio, procurando as palavras
a ponto de nada ser.
hoje não sou
nada sou...
maravilha humana ser mutável.

fragmentos do LÓGICO II

todos os cantos em todas as horas
pesares em todos os dias
lágrimas em todos os olhos
amores em todos os homens. utopia.
tudo em todos, em tudo.

todas as vozes em todos os ouvidos
buzinas em todos os carros
cigarros em todos as bocas
marias em todos os josés
jesuses em todas as igrejas.

tudo desde que haja o tempo
que não se canse enquanto houver espaço
que não se cale enquanto houver o grito
que não se sofra enquanto houver o beijo
que não sejam silenciados enquanto houver a poesia.
proeza sonora.
viva a música.

fragmentos do LÓGICO I

Tudo está dito?
Tudo?Está dito?
Até tu? Áté eu?

Sei. Saberia.
Seu eu soubesse...
Engano. Procuro.
Desencontro.
Ah, poetas...

domingo, 16 de agosto de 2009

madrugada

(ilustração:Mr.B -www.homographix.com)





ainda continuo a minha busca,
talvez em algum momento de maneira inconsciente.
não sei o quê busco, apenas o que não desejo.

meu discurso é o do ator perdido diante de tudo.
discurso mudo, nulo.

se eu é apenas um pretexto, que seja nós, então.
assim...

poderíamos pensar que as coisas serão melhores
e que os passos iniciados com os pensantes nos levariam ao entendimento.

mas, conhecer para quê?
a alma nem sempre cabe num pensamento expresso
de vez em quando é vômito, choro, solidão e inferno.
sentimentos e sensações que nem o diabo católico pode explicar
nem o cristo bizantino
nem os domadores-de-almas de plantão
tampouco os filósofos historiadores ou os antropólogos da miséria
entendedores profundos da barbárie.

coisas melhores? dias melhores?
sejamos românticos e ingênuos... esperando,
pois o melhor nunca virá.

são novas as guerras.
e como se trata de um grito pessoal,
volto a ser eu:
grito. careço de um linimento.
não sou ouvido. não somos.
as pessoas em busca de milagres rezam e me cobram por meus pecados
mas pecam ao pleitear apenas a salvação de suas almas religiosas.
e como os senhores do poder, os religiosos agora querem só para si
e nem ao menos abrem suas janelas para contemplar
enquanto as cidades agonizam de fome
e os homens sofrem de ignorância via-satélite.

mas os discursos continuam inflamados.

não adianta
os pobres sempre quiseram apenas a riqueza
e os ricos serão sempre ricos.

à margem, se eu fosse um pensador diria mais,
mas sou apenas um ator, intérprete sufocado
esticando meu grito.

se continuo incessante a minha busca
tanto quanto os outros estou condenado a ser só
como um homem comun...
'' qualquer um''.

sábado, 15 de agosto de 2009

movimento contínuo ( para Caetano Veloso )

ainda que pareça ao acaso
o culpado, aqui, se despe e se apresenta ao público
num ocaso de vozes dissonantes
que de dentro da voz do réu ecoam
procurando no céu nublado,
um melhor tempo para se esperar dias melhores.
e se ele pudesse cantar, talvez se calasse.
mas como o silêncio é perturbador
e a sua matéria ainda é crua
renova-se fazendo muito barulho
por não saber cantar
nem sequer saber fazer chover.

ele também não saber fazer clarear o sol
e a despeito de viver, rima sem rumo na rua seca
no asfalto oco sob os trilhos escondidos da praça,
ou na avenida larga
lugar em que ele se lembra de você.
e se ele sorri
é por causa de você
que o sorriso vem,
da sua voz
letra
canção
menino com '' brinco de ouro na orelha''.

sabe,
os meninos daqui andam muito feios
as ruas menos largas
e as almas estéreis.
mas as palavras dançam
os meninos dançam
e as almas velhas emudecem
por não poderem dançar mais.

ainda que pareça ao acaso
ele é o culpado de todo o luxo que inventa.
e quando inventa
está sentado sobre os seus dois ovos
quase cazuzeando-se
aqui na boca da miséria
da avenida cheia de meninos
sem praça
e com o som do seu som em sua boca
ele sampa-se
ele sou eu.


http://www.youtube.com/watch?v=7vV22LRNrpk

De onde vem a minha palavra

Vem de mim, do que está aqui na minha cabeça louca.
Vem da Bahia, de Caetano, de Betânia-voz-de-veludo
ora áspera, ora lisa...
Vem de Arnaldo, vem de Antunes
proto pro poe
poesia em desordem
proesia em progresso.

eu


eu é apenas um pretexto no contexto evolutivo do ser, de cada um,

quando apenas em si.

termo cunhado para diferenciá-lo do você ou dele, dela, ou de nós, palavra pronome.

eu não é nem mesmo tu, nem o desconhecido. eu é apenas aquilo que mais conheço antes dos outros. o mesmo que possuo. por isso é para mim a festa do ego, do não globalizado, do indivíduo que se diz. eu serve apenas para mim.

é ele quando visto pelos outros, mas aqui, só um pretexto, um grito um lamento.

eu é narciso aflito diante do espelho quebrado, moderno, coisificado desreificado auto-afirmação da canção solitária. eco da primeira pessoa a usar o verbo.

eu é apenas o dito e do alto do edifício construído eu é nós todos, cada um, antes de compor o coro,

ao acordar dependurados no varal para secar ao sol e esperar a salvação.

arte e ilustração por Mr. B www.homographix.com


Ilustração por Mr. B www.homographix.com


acaso

portas abertas quintais cheios de crianças mutiladas calçadas esburacadas mulheres esquisitas sentadas ao portão automóveis faróis avenidas faixas placas de sentido obrigatório e crianças pedindo trocados com seus paus duros e tetas fortes engolindo falos apavorados de homens mal-resolvidos e milhares de vozes esperando o contínuo sopro de vida dos esquecidos e descamisados sem teto sem carros sem comida sem roupa e os pêlos expostos e o segredo de cada um iluminado pelas lâmpadas altas e águas escorrendo dos telhados deformados e cortiços improvisados entre os prédios bem montados e o outro me dizendo quantos anos ainda posso viver lendo meu futuro incerto através do enviado de Deus e os deuses da natureza do passado nos shoppings lotados lojas vitrines meninos e meninas cinema e pipoca cidade de homens dualidade imortal do senhor de engenho moderno que humilha e escala e interna seus soldados sem braços nas casas sem iluminação lá no fim da avenida perto da solidão dos anjos bem perto do fim do mundo programa de domingo macarrão com frango e pelados e peladas dançando até o limite da histeria sem arteriosclerose do espírito sentida no hospital sem doutores e profissionais capazes vamos todos morrer e é a única coisa que sabemos sabendo da vida o que vier é lucro sem livros lousas quadro-negro gizes e saberes portas fechadas e palavras infinitas que se vão escorrendo em direção ao rio sujo cheio de fezes flutuantes espumas e mijo da cidade toda só ArnaldoCaetano só eu mesmo só Luís Morena Dinho Vanessa Tainá Zé Paulo Anna Vitor João Zé Marx Zuzu Una e todos vivos peixes n'água morte vida palco teatro praça ideal de sentimentose arte pelas ruas abestalhadas sem sabor pastas armários embutidos dentro dos peitos expostos e para se ver a idade dade pedras escuras e poluída senhoras com sexo sem sexo coçando a boceta fedida e no século dezenove os homens abusavam muito mais culturalmente... e isso continua... sempre...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

menino morto

hoje eu vi um menino forte dormindo na calçada
cheio de feridas azuis
que ao sol me faziam pensar
na terra desconhecida de Hamlet.

sem voz nem alma
seu corpo fedia diante da multidão curiosa...

e eu, pequeno diante de toda a imensa situação
só fazia chorar.

anjo urbano

me confundo com as linhas arquitetônicas da cidade fria,
entre os corpos retos, frios como aquelas linhas
e as vozes dos automóveis pedindo passagem.
procuro nos homens, nas mulheres e nos meninos
as curvas necessárias para destoar do resto.

a passos perdidos descrevo uma caminhada que vaza do peito.
gosto de andar nela sem ter destino.

sorrio falso, arranco beijos forçados nas ruas
mas os homens, as mulheres e os meninos continuam feios, frios e retos
e confundem-se com as vozes irritantes dos automóveis
sem que peçam passagem.

em cada esquina um filme.
em cada esquina um anjo admirando a destruição natural da vida
e lendo um trecho de seu apocalipse pessoal.

tanta coisa ainda por fazer...

e todos os anjos querem me conduzir ao seu paraíso pessoal
na terra-prometida-reta que criamos.
São Paulo é a minha cidade. Tudo nela e para ela. Um misto de gente, subindo e descendo as ladeiras, avenidas, museus, bares, botecos e shoppingcenters.
Aqui as coisas são e não são. Aqui, a palavra se sente confortável para subir no palco. Aqui, o palco é extenso, os personagens são complexos, como em qualquer grande cidade do mundo.
Só que aqui, é a minha cidade.

diálogo

tempo que lhe perco
tempo perdido que me deixo,
tempo.
basta! vanguardas que naveguem
escolas instituídas
pedra por pedra
tijolo por tijolo.
ouço o que digo
renego, desdigo
saio do meu umbigo angustiado...
ângulo desreto.

no viaduto do chá de cada dia
dai-nos senhores a proesia
de cada dia.

afirmo-me o tempo todo em auto
tempo perdido
que me perco.

sou eu demais
por não ser eu mesmo,
sou nós.
eu que me digo em nós que nos perdemos.
sento-me e sinto-me muito só.

por isso escrevo
tentando uma canção
no mar salgado ou doce
que há em mim.

ao leitor

falta-me muito.
o muito que não sei. serei capaz de dizê-lo?
feche esta página, vá para o orkut...
não vou dizer aquilo que pretende ouvir.
são meus, os tais versos.
pense nisso e quando voltar, conversamos.
ou melhor, pense nisso e quando voltar, leia-me.
eis-me aqui.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

lógico

as pessoas continuam. e eu continuo, como as pessoas
e observo, se construo. observo nada sereno
para tirar das pessoas aquilo que será para sempre.
tenho em meus cadernos todas as pessoas que amei
e em minha alma todos os que eu queria que estivessem longe.

mas também me construo e deixo que eu seja o observado, dentro dos outros olhos,
mesmo quando não há muito o que se ver em mim.
e faço. faço versos fáceis com palavras e pessoas
quando a língua da minha língua, é a mesma que funda meus alicerces...
composta de palavras que da alma saem
para passear onde quer que seja, na grama, no asfalto, no quintal molhado,
na avenida, a gramática.

se eu soubesse escrever, não escreveria
seria um compositor, sem a música
ou a própria simplicidade que vem do silêncio,
a mesma que está por trás ou por dentro dos olhos e dos ouvidos, sem se formar.

de resto o resto é todo irritante.
de resto, minha voz me irrita
as pessoas me irritam
enquanto as coisas se irritam.

se eu soubesse escrever, não escreveria.
seria o próprio nada
em todas as horas do dia
assim como a voz da cantora maria
que se gruda em minha alma
e projeta minha incompetência diante da beleza
que dela exala:
cantar com o silêncio, com o nada, sem dor,
apenas deixar sair limpa, límpida, canção.

paráfrase

li ontem
quase dois poemas do livro de um poeta estúpido
e chorei como quem tem rido muito
- os poetas estúpidos são artistas doentes
e os artistas doentes são homens sãos.
nas páginas abertas por mim
as lágrimas vertiam das letras, manchando o papel.
não. ilusão. as lágrimas ali vertidas, eram minhas
e não dos poemas lidos.
como se não soubesse de quem eram tais poemas
busquei absurdo a capa para identificar a assinatura.
e qual não foi a minha surpresa
quando descobri que o poeta estúpido era eu.
eu mesmo.