sexta-feira, 19 de março de 2010

meus meninos e meninas

meus meninos e meninas que dormem com seus textos na cabeça
e todo o peso sobre os travesseiros,
não durmam. acordem.
o som do que ouvem, dito por mim,  é menor.
não diz do mesmo jeito que os outros
por não conseguir dizer.
não apela. é o que aparenta ser.

quando sai de mim
é por não conseguir caber em si,
quer doa, quer grite, quer apenas diga.

eu ainda era menino
quando vi na prateleira de minha estante
na casa velha e pobre de minha mãe
'' O Guardador de Rebanhos ''.

mesmo não sabendo o que aquele homem queria dizer
eu já tinha claro em mim
que era poesia.
e talvez porque eu estivesse me tornando homem
naquele meio-de-caminho '' aborrescente''
tudo o que ele me disse nas páginas
eu sabia que um dia,
seria o que eu queria dizer,
dada a rebeldia expressa nas páginas que eu li.

hoje, quando vejo todos os meninos e meninas
que já nem sequer dormem com seus livros,
mas com suas máquinas informatizadas
choro por não saber o quanto eu deveria dizer mais.
para que talvez um dia,
com suas páginas marcadas
um poema viesse a fazer baderna em suas cabeças ocas
tais como a que eu, também, um dia tive.

não levem as letras destas canções
como verdades insuperáveis,
mas ouçam-nas como um único canto
de quem tanto canta
por não saber cantar.
VIVA A ESTUPIDEZ
a descrença
o ateísmo
o absenteísmo,


MORRA A INTELIGÊNCIA
antes que seja tarde.

É CEDO DEMAIS PARA PENSAR.

sexta-feira, 5 de março de 2010

contradição

eis-me o sol,
mega
claro areal
entre as nuvens,
portal divino-ateu.

os deuses estão mortos
e eu ainda sobrevivo.

eis-me a noite
cega
raro cristal
entre os homens
portal indigno.

eu estou morto
e os deuses ainda sobrevivem.

mortos e vivos habitarão o mundo
sempre, enquanto o mundo habitar o homem...

eis-me ninguém
cantando longe daqui.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CANTO PARA ALGUÉM

para quê?
para quem?

quem invadirá
as páginas do meu texto
procurando bagunças de gaveta?

efemérides
frases feitas
citações,
todos querem o mesmo, apenas
para encher as folhas de seus cadernos.

haverá um outro idioma por trás deste
como se fosse um código, dificultando o entendimento?
ou estamos fadados a uma cultura falida?

imagino que quem não tem ABC
nunca se importará com o que se quer dizer
nas linhas de todos os estilos,
menos ainda nestas.

mas então, enchamos suas panelas com o pão diário
e o circo se fará de outros jeitos,
povoemos suas escolas com ministros da cultura
e cancioneiros populares
ensinando-os a ouvir, a ver e a ler.

e se outras vezes penso
que, eu autor, escrevo para me livrar,
amadoristicamente
de um insconstância própria
quero que outros também o façam
lendo minhas tortuosas linhas.

antes que do  nada, ou do tudo,
eu escreva para me livrar do próprio sentimento
e desse pagode que ele faz em mim, na minha cabeça.

que graça terá se eu não  dividi-lo com o outro?

alguém que canta uma canção
canta para ser ouvido
mesmo que não cante sentido.

NA TERCEIRA MARGEM

descendo o rio manso
onde o vento faz a curva
a canoa do jovem poeta
procura
a TERCEIRA MARGEM
do Rosa
na rosa das águas.

encontra-se com Deus
pois encontra-se com quem o criou, o homem.
e cora de vergonha por tê-lo encontrado.

a vida passou
a morte passou
o mundo passou.
o poeta passou
confortavelmente sentado
em meio aos seus versos amarelados
sem Deus.

não pode mais subir o rio
nem procurar o caminho de volta.

O OCO

por um momento
minha voz
meu lamento,
a estrada molhada é longa
e tudo parece estar onde deveria.
por um instante
minha sílaba primordial
além dos pés cansados e descalços
absorvem a estrada.
eu sou tudo isso
nessa distância incalculável.
onde darei?
o carro ficou distante, abandonado,
agora estou a pé
com a palma dos pés no piche seco
meu silêncio grita
estica-se na faixa que divide a via,
o meu mundo e  o outro.

ouço mais do que digo,
minha voz está morta.
eis a poesia, a que procuro
a solidão exata
o oco
e o nada.

quarta-feira, 3 de março de 2010

PROESIA POÉTICA


antes de mim
todos,
silêncio azulado
poemas mudos
e o mar inundando minha alma.

depois da aurora
ninguém
barulhos coloridos
textos falantes
e o sol queimando a moleira.

hoje,
uma única nota soando
em um doremifasollasido
diatonal
e João Gilberto
sem Astrude
ensinando-me a poesia,
a mesma que procurei por tanto....