eram horas azuis
aquelas em que esperei o vento soprar,
horas de encanto com o mundo.
a fantasia usada era branca
e os anjos desciam e punham-se
à volta do moribundo.
correria no corredor central
e nenhuma poesia viva
apenas os anjos em alvoroço tentanto salvar minha vida.
se eu fosse encenar o momento
não conseguiria maior realidade que esta
desenhada na minha cabeça,
por entre as horas luminosas do dia
azuis e com o vento soprando.
na enorme casa, cômodos dispostos
de acordo com a hora particular de cada um
todos os enfermos
mortos de medo
sem um sorriso sequer para amar.
a fantasia usada era branca
e eu de azul
cuspia salivando uma vontade desgraçada de fumar...
não morri. estou aqui para contar
no meu livro de horas.