segunda-feira, 19 de outubro de 2009

teorias

tua grandeza está exposta, homem
desde o teu iluminismo francês,
desde o teu pessimismo alemão
e tua poesia parnasiana.
como folhas avulsas espalhadas ao vento.

sei que todos são e foram importantes
tanto quanto entender-te a ti mesmo,
mas o tempo é cruel com teus escritos
porque o homem e o mundo são cruéis.

mas tua sabedoria também espalhou outras folhas ao vento
e foram tantas que
resolveste procurar a simplicidade
e escrever poucas linhas
ou linhas mais suaves.

tua grandeza continuou à vista
mesmo assim.
sem que tu soubesses como omiti-la
ela se refez
e os louros de tua vitória
estão engavetados junto aos teus escritos simples.

e agora? como seremos se tu já o foste?

cantando estaremos sempre
ainda que os cancioneiros morram
e todas a simplicidades expressas
virem objetos de museus.

agora, continuaremos sendo.
tu a ti mesmo
nós aos outros.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

mais um relato na cidade em que nasci

o andarilho que passeia sob a lua
canta sorridente e impassível,
aprende mais que ensina
raciocínio miserável
descortina-se a canção.

a luz que lambe sua face
varre o universo,
não é dor o que sente
mas o carinho da seda sobre a pele
na noite que corre calma.

na avenida suja, cora de felicidade
sem saber o valor do sorriso que estampa,
despe-se não para o amor mas para a guerra.
a cidade o devora, as pessoas o devoram.
a carne sucumbe ao som dos automóveis na garoa.

chove calma a chuva descortinando a lua.

tudo parece igual ao que era antes
e a lua continuará até o mar, a chuva também,
enquanto o andarilho estiver altivo
seguirá procurando o equilíbrio necessário para a vida
pleno pelos quintais do mundo
e tudo será como sempre foi.

o que dirá ao mundo o andarilho
se perguntarem
sobre sua nudez, sua insanidade,
a lua e a garoa fina?

nada. nada precisa ser dito
tudo está.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

desvirtuado


estou dizendo  sim ao homem,
posso voltar a acreditar que tudo pode ser poesia
que egoisticamente meu umbigo abriu-se ao planeta,
pelo menos ao meu redor.
há em mim uma euforia por conta do simples ato de acreditar,
como se os fantasmas que me acompanharam no palco por anos
resolvessem conspirar positivamente com meu cérebro
para produzir muita cerotonina.

estou dizendo  sim
quando ouço a grande MARIA com PESSOA em sua boca
ou CAETANO em sua voz,

quando vejo a beleza da crença no coração do homem do norte
mesmo que a chuva não venha logo
e que  a palma verde seja o único alimento possível
para todos os ene filhos e bichos famintos,

quando vejo as baleias sonham com uma terra farta de preás
e o bucho cheio de vermes dê lugar à barriga alimentada
e a poeira que afasta DEUS  de suas vidas
traga os DEUSES sempre discriminados,
com tanta água que a terra arrote
as sementes e o verde de seu útero,

ao ver os meninos mais conscientes, se um dia o forem,  que os intelectuais
sem ter que vender os drops nas portas das igrejas
ao filhos de cristo, cada dia mais ricos.

sim ao homem quando o dia tornar a nascer
e ridiculamente possamos cantar
canções de bem-viver.

sim! hoje eu me rendo.


**ILUSTRAÇÃO : Niilismo, Andy Warhol.