sexta-feira, 23 de abril de 2010

dos sem nome 2

sempre que compuser algo,
do nascimento à morte
continuarei errando
feito barco bêbado desancorado
à deriva...
inebriado de sabores tantos
corado, rubro sem tempo exato.
sílabas estranhas deslizarão
em notas diatonais.

não há centro para mim
mas piruetas indescritíveis
que passeiam entre mim e o mundo.

eu do mundo nada sei
de mim muito menos,
apenas o que jorra
faz-se tão grande e nasce com tanta força
que a vida não entenderia nunca
se o útero dos meus versos
não estivesse plantado num satélite
parabólico.

terça-feira, 13 de abril de 2010

dos sem nome.... 1

cheguei cedo para a festa. estava tão entorpecido que sequer notei  o silêncio
das notas embriagadas de todos que estavam na sala.
tinha que estar ali, eu,
ainda que para constatar que de tão ocos
aqueles corações, nenhuma nova canção
ou antiga leitura faria uma mudança.

eram os mesmos, daqueles que me diziam que eu deveria ser mais social
mais amigo, mais integrado ao mundo.

porra, como eu poderia
se nem nada me diziam aquelas bocas?

outrora as coisas tinham um sentido mais pueril
mas eram vivas,
hoje nem posso caminhar sem meus discursos falidos
em busca de modelos menos medíocres.
não serei ouvido
tampouco lido.
serei eu então?

cheguei cedo para a festa
mas nem a cerveja, nem a cachaça conseguiram exibir minha alma.

a conversa? solidão e silêncio.

o quê tanto queremos festejar
se nem sabemos quem somos?
ofereçam-me mais então!
tragam-me uma droga eficaz
e eu também poderei festejar a estupidez
de não saber cantar.

saí cedo da festa
antes que me atirasse pela sacada do apartamento antigo
no centro da cidade que me pariu
e por suas ruas caminhando
vim dar na vila abandonada
onde o silêncio era apenas consequência das casas sem moradores,
hoje, coisa muito mais excitante para um jovem senhor.

quero mais. quero tudo
que seja ao mesmo tempo agora...

sem festas ou celebrações, estou só
como sempre quis.
e digo, apenas, se eu quiser dizer
como um poema de uma nota só:
estou morto!