sempre quis limpar a casa suja,
remover a poeira dos livros, aqueles que estão sempre mais sujos,
encontrar o feitiço para libertar os personagens e seus fantasmas
e depois colocá-los numa grande fogueira
e queimar-lhes, vaidades que nos iludem.
incendiar a casa toda daria muito trabalho.
seria mais difícil que esconder sob os escombros
as tragédias de nossas vidas pequeno-burguesas,
porcelanas baratas.
sempre quis libertar dos livros
primeiro o amor
tardio cardiopático passional latino americano,
em seguida os monstros fascinantes e maravilhosos
sem perceber que muitos deles já estão libertos-não-libertos
caminhando entre os pedestres.
mas minha vaidade não me permite
pois teria que fisicamente me livrar de suas prisões,
após a alforria - elas estariam vazias -,
dos livros, das vaidades e dos fantasmas habitantes.
o que seria de mim? de nós?
limpem a casa suja e queimem-nos os que vierem depois de mim,
se eles ainda existirem.
ai que preguiça.
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