quarta-feira, 2 de setembro de 2009

proema


não sou nem capaz de tecer um verso
uma linha do jeito que tu tecias.
mas os monstros que habitavam a tua casa
para mim são constantes todo o tempo.
contudo, minha carne opaca não é capaz
de armazená-los sob a pele.
então teço como um cantador anônimo
que não tem ciência nem escrúpulo
mas que se rege pelas regras
que tanto tenta quebrar, mas que não quer se parecer contigo.
não sou nem capaz de sentir por dentro
porque sou o próprio sentimento.
sentimento não sente. é.
não sou capaz de amar
pois sou o próprio amor
ainda que proibido e expulso da sociedade.
não sou a luz do sol
nem a sombra da lua.
menos ainda o beijo.
sou eu. cara suja no palco.
mas o que é ser eu?
é ser o que sou?
o que sinto?
o que faço,
sonho ou imagino?

não sou capaz de nada mesmo.
e tal fato não me entristece.
na minha exegese diária
crio em função de recobrar uma poesia
e não deixar que a agonia mate a vida.
mesmo que seja no quadrado em que vivo.

e o que tento é penetrar a parede que me separa de ti.
FERNANDO criador sem rosto fixo
o outro maior na casa da sinfonia da palavra.
artista-arteiro
PESSOA da minha convivência diária, celulose marcada
dormindo sobre a mesa
ainda que as vezes BERNARDO, CAEIRO,
ÁLVARO, RICARDO...

ainda que as vezes FERNANDO.

não sou nem capaz de te oferecer o poema-proema.

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