terça-feira, 15 de setembro de 2009

fotografia muda

nasci em família pobre. meu pai era operário,
minha mãe fazia serviços de costura para confecções.
o bairro pobre e a vida humilde fizeram-me entender muito da vida.

brincávamos com a criatividade inventiva dos artistas.
todos éramos escultores natos.
nossos brinquedos eram feitos de pau: espingardas, carrinhos tortos, estilingues.

cinco ou seis, talvez dez meninos brincando com os brinquedos feitos de pau.
e quase nunca tínhamos os brinquedos anunciados na televisão.
mas tínhamos muito mais que os brinquedos de pau.
tínhamos a infância.

trazer a poesia desse tempo para o papel? impossível.
é como tentar ser pintor sem ter a sacação necessária dos matizes.

corríamos sempre morro-abaixo morro-acima, diariamente,
com um velho carrinho feito com rodas de rolimãs
que comprávamos numa mecânica do bairro.
e descobríamo-nos assim.

o tempo foi nos afastando, como sempre acontece.
meninos que viram mocinhos e mocinhos que viram homens.
pequenos homens responsáveis
com seus pelos e pernas crescendo.
e a voz engrossando.

que saudade do tempo em que eu era um menino,
dos brinquedos de pau
das ladeiras dos carrinhos de rolimã.
e da pobreza-rica da minha infância.

Nenhum comentário:

Postar um comentário