domingo, 23 de agosto de 2009

narciso no espelho...aflito.

de mim o que digo, será mentira?
eu é apenas um pretexto
de alma completa que não se completa, diz-se vazia.
pereço, eu sei.
em cada esquina haverá sempre um anjo de Rilke(*)
marcando as horas definitivas e todas as despedidas.

pereço diante da morte que se aproxima
quando me lembrarei de todos os livros que devorei
e a vida de cada um deles latejante.
e os anjos me condenarão ao inferno por tal promiscuidade.
mas será que o inferno pode doer mais que a morte da alma? o deixar de existir?

de mim, o que digo agora será saudade
do que eu ainda não vi.

eu é apenas parte de um contexto
pois nem chegarei a ser um eu velho.
e na hora final me lembrarei de todos os meninos que devorei
o sangue de cada um deles derramado sobre o meu dorso...

de mim o que digo?
morrerei jovem sob a garoa fina na avenida paulista.
e todas as mentiras da minha vida serão abolidas.

de mim? o quê direi se estiver apodrecido?
nada.

(*) referência ao poeta Rainer Maria Rilke, nascido no
império austro-húngaro no século XIX que, com sua poesia
influenciou inclusive a filosofia de Heidegger, '' (...) refletindo a angústia
do mundo de então (...)".

Um comentário:

  1. Vai, narciso, vai
    e quebra teu espelho,
    turva tua imagem...
    Mas não nega teu reflexo
    àqueles que te admiram.

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